Em Portugal, a única maneira de combater a droga é com vinho. Um
bêbado é sempre mais social que um heroinómano. Dá trabalho a mais
pessoas. O dinheiro, em vez de ir parar às mãos do vil traficante,
regressa às caves do bom Abel Pereira da Fonseca. Um bêbado diverte as
pessoas tristes que precisam, do alto das suas janelas, no tédio
nocturno das vielas, de um motivo de escárnio, distracção ou opróbio.
Os bêbados dão bons sketches de cinema. Os bêbados fazem parte da
nossa cultura.
A heroína não tem nada a ver connosco. A cocaína é um hábito
sul-americano que, de qualquer modo, é demasiado seventies para os
dias de hoje. O LSD é um devaneio é um devaneio ianque para músicos
pretendidos. O haxixe é uma mistela de Mouros. A liamba é uma friquice
de Luanda. Os comprimidos são para matronas inglesas à beira do
suicídio e do supermercado. Português é o vinho e todos os seus
derivados. Cada um com o seu efeito especial. Uma pedrada de jeropiga
é diferente de uma pedrada de tinto Ferreirinha 1980. Há maior
variedade de álcool do que drogas rascas e caras.
(...)
As drogas pesadas só entraram nos países latinos por descuido.
Repare-se que, em todos os casos, são originárias de países onde não
há um vinho decente. Sem essa bênção, esses pobres estrangeiros, desde
os Tibetanos aos Bolivianos, tiveram de inventar alternativas. Jamais
se invemtaria o ópio em Borba. não faz sentido cultivar papoilas no
Alto Douro. Em Saint-Emilion, ninguém se lembra de fumar um charro - até porque altera o sabor do vinho.
(O escritor português Miguel Esteves Cardoso, em "O Problema do Álcool")
1 comentário:
O belo do Tuga, gosta é da vinhaça!
Rasca ou da melhor colheita não interessa, o k interessa é buber!!!
É sempre a abrir!!!
ou melhor a beber ! ehehe
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